Ventos Que Sopram na Pregação: Da Homilética Clássica à Nova Homilética

Introduzo este artigo usando as palavras de um dos meus professores de homilética no mestrado, Pr. David J. Merck:

Methods are many; principles are few.

Methods may vary; principles never do.

Uma tradução livre seria:

“Métodos são muitos; princípios são poucos.

Métodos variam; princípios permanecem.”

O princípio da exposição bíblica – ou seja, a explicação do texto bíblico e a aplicação válida dele à vida dos ouvintes – não é negociável para o ministro que crê na inspiração e infalibilidade das Escrituras (2Tm 3.16,16). Mas os métodos de fazer isso variam de época à época, de cultura à cultura e até de audiência à audiência. O expositor engessado e viciado no método que “sempre usou” confunde a permanência de princípios com a variedade de métodos. Corre o risco de se tornar um arauto do Senhor cuja mensagem soa ininteligível aos ouvintes. Ele responde perguntas que ninguém está fazendo com palavras que ninguém entende.

Você Não Prega No Vácuo

Você que é pregador da Palavra de Deus, não atua no vácuo. A comunicação na vida consagrada – retórica, oratória, homilética precisam possuir um caráter sempre atual, pois as suas pregações são para os ouvintes do tempo presente. Mas ela logicamente é motivada e alicerçada pelo Deus que é Eterno e Sua Palavra que é milenar e imutável.

Antes de continuar em meus pensamentos sobre as ideias que comecei a descrever acima, preciso reforçar uma de minhas teses, para me adiantar aos mais críticos e contrários a qualquer tipo de mudança quanto aos métodos que podem e devem ser mudados, quando o assunto é “pregar para os ouvintes e não para o próprio pregador”.

Cravo aqui a minha tese: “o Evangelho – a Palavra de Deus é totalmente inspirada, imutável, inerrante, infalível, eterna, absoluta sem que precise de qualquer tipo de atualização. Mas, os métodos para que esta Palavra seja comunicada podem variar de acordo com os ouvintes, a época, o objetivo e em especial o gênero literário do texto bíblico”.

Dito isso, prossigo descrevendo os meus pensamentos sobre “os ventos que sopram na pregação”.

O Projeto de Deus na Pregação

Deus tem um imenso projeto de comunicação que diz respeito ao anúncio da sua Palavra no mundo. Esse projeto do Senhor de comunicação está no centro da pregação cristã e emerge da Bíblia. O Salvador Jesus Cristo é o centro da Bíblia. Dele é a voz nas Escrituras e sobre Ele discorrem os profetas e apóstolos no Antigo e Novo Testamento. O projeto de comunicação de Deus a partir de Jesus Cristo extrapola os limites antigos e é anunciado em todo o mundo pela verdadeira Igreja. Nós, servos do Senhor, devemos continuar a comunicação bíblica, para que os propósitos comunicacionais de Deus sejam alcançados.

Você que é pregador da Palavra faz parte deste projeto, proclamar o Evangelho de Cristo a outras pessoas em mundo que está em constantes mudanças. Pregar de forma bíblica, comunicativa e criativa não é uma opção, mas uma tarefa ligada ao chamado para pregar a Palavra de Deus.

Ventos Que Sopram na Pregação

O que vou descrever agora pode até soar repetitivo, mas é fato e como tal precisa ser repetido – “os tempos mudam”.

Mas, percebendo alguns “movimentos” homiléticos e algumas pregações, dá até para se dizer que – “os tempos não mudam”.

Para não divagar citando nomes ou generalizando, trago um exemplo pessoal. E, olha que não sou tão antigo assim! Meu treinamento homilético se deu há duas décadas atrás e boa parte dele teve como base uma apostila elaborada a partir de alguns manuais homiléticos publicados nas décadas de 50. Interessante que meu avô (in memoriam) usou um destes manuais quando estudou e formou-se em Teologia pelo Seminário Batista de Bauru em 1954. 

Hoje, quando ouço algumas pregações de pastores jovens ou não, parece que os tempos homiléticos não mudaram. O formato, a estrutura, o estilo, o tom, tudo ainda são os mesmos.

Hoje as pessoas, os ouvintes, não são os mesmos de quando aqueles manuais foram escritos e de quando os seus escritores piedosos pregavam a Palavra de Deus. Os tempos mudam!

Isso não é necessariamente um mal ou um problema. Ser familiar é uma condição importante para que nós nos identifiquemos com uma denominação religiosa. O “tom” da pregação é importante para estabelecer este padrão.

Mas, até que ponto é importante, necessário ou recomendável manter intactos ou seguir rigidamente os padrões de outras épocas, sem que haja algum tipo de adaptação ou remodelagem da forma?

E, volta o clichê: os tempos mudam – e transformam as pessoas! Condições sociais, científicas, educacionais, políticas mudam e, com elas, a humanidade. Cada fez mais as novas tecnologias nas mais diversas áreas do saber humano avançam a alteram o cotidiano das pessoas de uma forma intensa e veloz. E a pregação?

Ao examinar a história homilética das últimas décadas, há opostos evidentes: de um lado uma pregação rotineira estacionada no tempo; de outro, uma pregação contextualizada e criativa. Mas, é fato que, na hipermodernidade (já estamos passando da pós-modernidade), novos conceitos e novas atitudes na apresentação do Evangelho de Cristo são necessários – “ventos estão soprando na pregação”.

 A criatividade e a variedade na pregação são valorizadas quando o pregador entende as mudanças citadas aqui. E, percebe como as mesmas podem se encaixar em seu ministério de pregação para maior eficácia na comunicação da Palavra de Deus e para maior proveito dos ouvintes.

Homilética Clássica e Nova Homilética

A influência mais marcante na proclamação cristã foi a retórica greco-latina. Com o crescimento do cristianismo e a sua aceitação geral, especialmente com a conversão do imperador Constantino (312 d.C), o ensino cristão assumiu de vez os princípios da argumentação e da persuasão segundo os moldes retóricos clássicos – a homilética clássica. Ou seja, a pregação passou a ser elaborada tendo como elementos principais a introdução; o desenvolvimento – composto de uma série de pontos ou argumentos; e a conclusão ou aplicação. Toda via nem mesmo este método pode justificadamente ser considerado como “a” forma de um sermão. Até hoje permanece o fato de que um sermão é definido mais pelo conteúdo e propósito do que pela sua forma. Ainda assim, os ouvintes que acostumaram com uma determina forma de sermão podem achar que aquela é naturalmente a forma válida. Semelhantemente, os pregadores que recebem treinamento homilético formal normalmente são ensinados a seguir um determinado formato – aprendido e dominado pelo seu professor e tendem a julgar que esse é o modelo ideal que devem seguir por toda a vida.

Não se pode afirmar que os ouvintes e os pregadores estão equivocados ao se sentirem confortáveis com as estruturas sermônicas com as quais se acostumaram. Em última análise, o mais importante é a proclamação e a audição da Palavra de Deus.

Mas isso, por outro lado, não deve impedir que os pregadores busquem aprimorar o seu desenvolvimento homilético para melhor proclamar a Palavra do Senhor.

A homilética vem aos longos dos anos sentindo em sua “face” alguns ventos de mudanças. Mesmo, que em alguns momentos na história tenha sentido apenas uma suave brisa.

O vento (ou ventos) mais forte e duradouro começou a soprar nos anos 60 do século 20, especialmente nos Estados Unidos. Ele recebeu vários nomes e o mais conhecido é a Nova Homilética. Este vento trouxe vários novos recursos para a teoria e prática da homilética. Além de reafirmar técnicas criativas já “grisalhas”, propugnou novos formatos de sermão, como o sermão narrativo, o sermão-história, o sermão-diálogo, o sermão baseado nas profundezas de uma questão e outros.

Umas das primeiras séries desses novos formatos apareceu no livro Experimental Preaching, de John Killinger publicado em 1973. O livro oferece uma boa – e criativa – amostra da mudança de paradigmas que estavam em curso. Na apresentação o autor da obra justifica o objetivo da mesma declarando que, quando um sermão de domingo de manhã é uma cópia de outro sermão, que por sua vez é cópia de outro sermão, é tempo de mudança. 

Para o autor, as formas experimentais de pregação, não eram essencialmente novas. Pois, os pregadores ao longo da história sempre estavam experimentando algo novo com respeito a comunicação da Palavra de Deus. Em todas as épocas houve inventividade – a exposição bíblica de Origenes, o methodus heroica (ou anúncio da Palavra de Deus revestido de autoridade apostólica) de Martinho Lutero, os atos simbólicos de Jeremias, etc. Seu ponto é: “Comunicação real não é uma coisa estática e raramente é conseguida sem experimentação e inovação”.

A Nova Homilética tem problemas (assim como a Homilética Clássica) e virtudes. Ela propõe o uso de múltiplos recursos oferecidos nos diversos campos de estudo da linguagem na elaboração criativa de sermões em novos e variados formatos. Por exemplo, o uso de recursos linguísticos (símiles, metáforas, analogias); de recursos lógicos (paradoxos, perguntas e respostas, justaposição de textos, etc.); de recursos literários (narrativa, diálogo, indução); de recursos estilísticos (carta, drama, história). E, como que antecipando a era atual da multimídia na informática e na internet, em 1977 Weisheit já propunha o que hoje chamaríamos de “sermões-multimídia”, a saber, o uso simultâneo de recursos audiovisuais múltiplos como ferramentas auxiliares na proclamação da Palavra de Deus.

O segredo não é abrir mão da Homilética Clássica em detrimento da Nova Homilética, mas saber como usar os recursos de uma para enriquecer a outra. Ou até mesmo, saber analisar as circunstâncias da elaboração e comunicação da Pregação, a fim de, usar uma ou outra de maneira mais efetiva.

Aprofundando Este Conhecimento

Sabendo que a Nova Homilética no Brasil ainda é uma abordagem nova e pouco conhecida, a fim de ajudar os novos e também experientes pregadores, foi que o autor deste artigo lançou o livro: “Novos Desafios Para a Pregação Expositiva: Sua Relevância Para a Época Atual”. O livro abarca em suas páginas assuntos que vão desde os desafios enfrentados pelo pregador na época atual, pregação interativa, tipos de ouvintes, modelos de sermões, até sugestões práticas para o preparo de sermões bíblicos e impactantes ao mesmo tempo.

Caso você deseje adquirir um exemplar, entre em contato: (16) 99350-5185.

Para imergir no assunto tratado visite:

No YouTube: Márcio Trindade – Anatomia da Bíblia, ou por este link – abre.ai/seguiroanatomia

E, o Site – anatomiadabiblia.com

Um Grande Abraço! – Pr. Márcio Trindade

Sobre o autor... | Website

Márcio Trindade é Pastor Batista a mais de 20 anos, casado com Vania e pai da Naara, Maressa e Levi. Licenciado em História, Bacharel, Pós-Graduado e Mestre em Teologia com ênfase em Releitura, Interpretação e Exposição Bíblica, pelas Faculdades Batistas do Paraná e Seminário Bíblico Palavra da Vida. Amante da Pregação Bíblica, Simples e Pura da Palavra de Deus. Acima de tudo, Servo do Senhor!